domingo, maio 28, 2006

Ser criança contigo


Uma folha caiu… Aqui, bem perto de mim!

Estava castanha, cansada do tempo que a fez passar tanto tempo dependurada nos ramos a oscilar ao sabor de si mesmo!

Eu estou sentada no muro, como desde que chegamos… Também eu oscilo… As minhas pernas dependuradas, balançam ao ritmo do vento e confesso, da minha criancice! Mas que importa ser criança? Sabe tão bem… Foi neste ritmo de criança despreocupada que te conheci, que te cativei e me cativaste, não foi?

Contudo hoje, uma parte racional de nós mesmos, proíbe-nos de sermos as crianças que já fomos! Alegres, incautas, irresponsáveis… Por isso, ficamos apenas sentados neste muro a olhar o rio! Ironicamente, assim como antes, estamos num lugar bem isolado do mundo, onde parece que ninguém nos pode tocar, salvo nós mesmos, mas estupidamente, nem isso fazemos! Ficamos sentados lado a lado, numa distancia estupidamente razoável… Sinto-te respirar, sinto-te a olhar a medo para a minha mão… É como se os teus olhos ma beijassem e eu mesma me arrepio! É estranho estar assim…

O dia está a chegar ao fim… em poucos segundos o sol que como crianças dissemos, fora aceso por um fósforo gigante, apaga-se! É o fim de tarde mais lindo que alguma vez vi… Talvez porque estás a meu lado, ou simplesmente, porque o céu está lindo… Sei que estou feliz, e isso basta-me!

Num torbilhão indistinguível de cores, a bola gigante apaga-se, mas o azul ameno ainda permanece na claridade que ainda resta!

Como se todo o tempo que ali estivemos a conter o desejo de nos tocarmos desaparecesse, tu agarras-me pela mão… Abres um sorriso rasgado, um sorriso de já tinha imensas saudades! Levas-me contigo… vamos subindo, subindo, subindo… e quando dou por mim… tenho o teu braço nos meus ombros e ao ouvido, um sussurro teu soa: “Aqui o dia ainda não acabou!” Sigo-te o olhar… O sol ali, ainda se via, fugidio, quase enixistente, quase a apagar, mas vivo ainda!

Continuamos a subir voltando a ser por pequenos momentos as crianças alegres que um dia fomos! Sempre que o sol se apagava, havia um ponto mais alto onde ele ainda vivia! Sorri ao perceber que estavas a metaforizar-nos, quis perguntar porquê, quis ouvir-te falar sobre isso… mas o teu sorriso não me deixava!

Tinha medo de estragar toda a felicidade que há já tanto tempo não via no teu rosto!!!

Quando não existia mais pontos altos para subir, voltaste a largar-me a mão e voltamos à nossa estúpida distância “aceitável”! Nesse momento odiei o sol, mas logo me passou essa raiva! Tu permanecias ali, nada estragaria a beleza intocável daquele dia!

Gostava de manter esta sensação minha, verdadeira, eterna… mas a consciência não me deixa! Que raiva de ser crescida! Porquê não ficar para sempre pequenina? Tenho saudades de ser criança, criança sempre, não só nestes momentos toscos e fugidios… tenho saudades, saudades de ser criança, contigo!

Clara Rodrigues

O que nao pode vir


24-8-2005

Às vezes acho que foi o mundo que o mundo não te quis… Eu queria, eu sonhava… Tu perdeste-te pela vontade de quem não tem consciência do que um sonho pode fazer à vida!

As músicas, ficam gravadas na voz presa para cantar…as tuas músicas de embalar! Os meus gestos ensaiados para ti, ficaram perdidos no vento, no ar de cores e sabores!

Queria poder ver-te… uma vez apenas, uma só bastaria, para gravar para sempre os teus cabelos encaracolados e os teus belos olhos verdes… depois podias partir, se assim era verdadeiramente o teu desejo… a minha noite, não teria braços que te impedissem de partir, não seria capaz… como não tenho sido com todos os que têm partido sem sequer dizer adeus! Pelo menos poderias vir como eles, no meio das sombras da noite, vestido de branco, como eles fazem… Eu tenho medo deles, mas contigo…seria simplesmente diferente! Partindo desta forma, tornaste-te um ninguém, com nome só para mim, com vida só para mim, de sonho… só para mim! E de todos os que foram, o único que queria que voltasse, eras tu, o que não pode vir!

Madalena Rocha

segunda-feira, maio 22, 2006

Sabias isso?


Embacio o vidro, e escrevo infantilmente com o dedo…

Letra por letra, percorro o teu nome…

Sinto-me parva por o fazer, por tornar todos estes meus gestos tão secretos, tão meus, tão proibidos… Não tenho a certeza de querer que leias isto k escrevo…

Fecho os olhos e consigo ouvir, quase na perfeição, a tua foz, a tua musica… fecho os olhos e percorro numa velocidade brutal momentos… Abro e fecho janelas, olhando intensamente cada segundo proibido dos momentos lindos que nos arriscamos a viver…

Fecho os olhos, em busca de um odor doce, de um riso escondido, de dedos enlaçados secretamente, de orações em silêncio, de olhares furtivos, de um beijo… que não sei adjectivar! Em busca de uma paz, que disseste um dia, vive em nós…

Quando dou por mim, tenho a mão sobre o que escrevi no vidro… quero agarrar isso, essa coisa, aquilo, isto… não consigo!

Pergunto-me se sabes o que escrevi e inevitavelmente sei que não consigo sabe-lo…

Encosto a testa ao vidro, está frio! Lentamente, deixo a minha mão escorregar, e quando olhos, o que escrevi, desapareceu em parte… vejo ainda alguns pedaços… é simples, é curto, mas ocupa tanto no meu peito! Talvez nunca o leias, mas no vidro fica a memória, de alguém um dia lhe ter escrito: “Eu amo-te, sabias isso?”

Clara Rodrigues

12-1-2006

Presa


20-10-2005

Ninguém… há uma inconstante em mim, e tu andas tão longe… Senta aqui ao pé de mim… senta na mesa, a moral não se importa! Senta! Senta bem perto, para eu poder deitar a minha cabeça no teu colo… ela pesa tanto! Vá lá… eu deixo-te brincar com o meu cabelo… Suborno? Não… eu deixo mesmo, vá senta!

Somos tantos aqui, sentados como bonecos, prisioneiros… senta-te tu na mesa, desafia-os… já que eu não posso! Seria louca se o fizesse…é como funcionam as coisas aqui!!!

Ouves o riso? Ouves??? É irritante, arranha! Sabes quem ri? É a vida que se ri de mim, deles, de todos nós… Vê-la lá fora? Ela anda livre, anda a correr, e ri… como louca que é! Quem me dera ser como ela! Louca? Sim… poder experimentar essa sensação! Quero rir como ela ri, rir de tudo isto que me apetece matar! Tudo isto em redor, não faz sentido! Chateia, fede a aborrecimento! Está tudo bem, mas parece estar tudo mal… é tudo tão cheio de tudo o que satisfaz, e parece tão vazia de mim… é tudo com tanta felicidade e em mim só resta revolta! Revolta de “não-sei-o-quê”, de nada, sem nenhum motivo, de ninguém… Não, não estou a falar de ti!

Ninguém, ajuda-me a sair deste buraco escuro! Tens medo do escuro? Eu tenho… e este buraco assusta!

Ninguém, limpa as minhas lágrimas, as lágrimas que ninguém limpa! Abraça-me em silêncio, canta para mim… Nunca cantaram para mim! Sempre fui eu a cantar, mas nunca cantaram para mim, para eu me acalmar, até eu adormecer…. Cantas? Canta para iluminar o que resta à minha volta, canta!

Eu grito com todos, sou fria, bruta… com quem não merece! Ninguém, acalma a minha alma, acalma!!! Eu não me sinto pessoa, sinto-me bicho selvagem, que não sabe ser terno, meigo, nem sociável… Ninguém, ajuda-me!

Madalena Rocha

sábado, maio 13, 2006

É este o meu desejo de ser



É este o meu desejo de ser

De pintar nos sonhos teus

Príncipes, duendes e fadas

De viver num outro mundo

Um mundo próprio que criaste para nós

E esperar que quando eu morrer

Me vejas pegar ao colo

Me dispas de tudo o que me sufoca deste lado

E me leves nos teus braços,

Para lá,

Para ale….

Deita-me numa cama inventada por ti

Abraça-me com o teu olhar,

E não digas nada, canta!

Canta até eu adormecer

Quero ouvir o teu cantar

Entrar em mim

Fazer-me vibrar

Quero que o teu timbre doce

Me arrepie,

Me acaricie,

Me beije

Até eu adormecer…

Então aí, morre também

Eu espero por ti

No teu mundo do além!

Clara Rodrigues

Dor


13-8-2005

“As lembranças que eram tão doces agora surgem como fantasmas para me atormentar”

Sinto-me a caminhar sobre o fio de uma espada. A espada mais bem afiada do mundo… caminho de cabeça erguida, o peito inchado de orgulho, um orgulho gentilmente aparente, me parece… e caminho descalça, a sentir o fio da espada trespassar-me… parece-te doloroso? Não é não… o sangue morno, deixa em mim um conforto ténue, quando escorre demoradamente pela minha pele…derme, epiderme… então porquê tudo isto? Se há conforto, orgulho… onde busco toda a incerteza, todo o vazio? É do medo, sabes… medo que neste caminho tão fino, tão estreito… um pé meu fuja um milímetro do caminho… e então aí será o fim, virá o abismo e a queda mortal!

Madalena Rocha

quarta-feira, maio 10, 2006

são só maos...sao tuas!


22-8-2005

Dou-te a mão…sem medo, suavemente… Estás quente! O morno de ti, acende um fogo estranho! Flamejam os olhos pelo cansaço e palpita a incerteza dum sono feito sonho, ou de um sonho feito sono… carinho, sem nome, sem explicação, sem razão… ternura, no teu toque, no simples tremer nervoso da tua respiração…

Brincas com os meus cabelos que te fogem encaracolando por entre os teus dedos… Amanheceu, num dia sem glória, que abunda de fumo… e agora apenas a tua mão ma dá a certeza desta noite sem razão!

Clara Rodrigues

Tens umas mãos diferentes, que tocam, como quem toca as teclas novas de um piano selvagem… deixas num simples toque, o desejo de um abraço forte, de mais tempo contigo, como se um dia intensivo, não fosse suficiente!

Tocas como quem pega em nuvens frágeis, de gotas de água, como que com medo, de ao tocar-lhe com mais força, mais abruptamente, me fosses tornar em milhentas gotículas, dispersas neste ambiente denso de stress, de tempo que corre, que não pára… um tempo que corre mais rápido que o tic-tac do mundo lá de fora! Um tempo que me rouba tempo, a este simples prazer do teu toque!

Clara Rodrigue


9-8-2005

Já me tinha esquecido de como o céu é tão azul lá… De como a paz era tão grande, as estrelas tantas, de como o tempo corria tão rápido e tão intenso, deixando em nós marcas tão profundas que o vento que corre por cá, não pode apagar jamais!

Ao regressar aqui, dou-me conta que o meu conceito de casa foi moldado… a minha casa mudou de murada, de lugar, de país… é como se esta semana que estive fora, naquele lugar, estivesse estado sempre em casa, e agora que regressei ao que sempre chamei casa, tudo me parece estranho, diferente…É lá que a minha casa é, a casa que ninguém pode destruir ou roubar…

Madalena Rocha

sábado, maio 06, 2006

Vamos fingir?


Vamos fingir…?

Vamos dizer que estive só

Vamos fingir, sorrir

Dizer que todos estão a mentir

Dizer que não me beijaste…

Vamos fingir

Vou dizer que não te vi dormir,

Guardar em segredo todos os nossos momentos

Dizer que está tudo bem,

Que nada mudou…

Vamos fingir,

Vou dizer que nunca vi fantasmas

E que tu não tinhas que me proteger deles

Vamos fingir,

Que aquelas músicas não nos lembram de nós,

Que não nos abraçamos sem medo,

Que não dormimos nos braços um do outro

Vamos fingir,

Que nenhum de nos teve que mentir…

É por tudo isto, que aqui estou…a fingir!

Achas que ainda vale a pena continuar a fingir?

Clara Rodrigues

8-8-2005

Vens?


31-7-2005

A brisa beija-me o rosto sujo…trás com ela a frescura da manhã e um novo ânimo! Estamos cansados, com sono, sujos… mas falta tão pouco para chegar! Sei que posso fechar os olhos e quando os abrir, chegamos! Ao meu lugar de paz… preciso dele para continuar, para me encontrar… falta mesmo pouco, vens comigo???

Madalena Rocha

quarta-feira, maio 03, 2006

Dá-me a tua mão


23-8-2005

Há uma teia a rodear-me… não percebo a espontaneidade com que esta apareceu e me começou a prender neste cansaço enfadonho! Há um vazio cheio de tanta coisa chata! Dúvida… tanta coisa que ameaça derrubar este último muro que coloquei envolta da minha mente! Num espaço tão curto, todos os outros muros carregados de certezas, forram derrubados, deixando a certeza frágil, de que o próximo muro manter-se-ia firme…

Dentro deste último muro, há uma protecção medrosa… sinto-me sem preocupações, sem nada concreto e demasiado complicado em que pensar, mas mantém-se o medo… e quando este último muro cair?

Não estou a pensar em nada e parece-me que a minha cabeça está a transbordar de coisas complicadas para responder…

Recorro aos meus refúgios, mas eles, não são mais meus, não vejo qualquer refúgio onde antes via… sinto-me despida em qualquer um deles! Não tenho tempo sequer para procurar um outro lugar onde me consiga sentir em paz, sem preocupação… um lugar onde possa chorar sem que ninguém me pergunte porque o faço! Faço e ponto! Sem que ninguém interfira, critique, piore o melhore… faço simplesmente da forma pela qual consigo atingir paz que necessito, que me liberta, que me deixa solta deste peso…

Dá-me a tua mão… não consigo estar mais assim!!!

Clara Rodrigues

Minha infância


29-7-2005

Porque é que o som da minha infância me está a matar? Porque é que o estão a espezinhar?

Sempre tive medo de odiar, mas neste momento é isso que cresce em mim. Não é um ódio de ninguém, para ninguém… é ódio simplesmente! Ódio deste som que ecoa dentro de mim… é o grito que a terra dá, a terra onde eu nasci! É ódio das máquinas que rasgam, que mastigam, trituram a minha terra! E fica apenas o grito abafado que ela não pode conter…

Nunca mais vou sentir o cheiro a terra molhada, nunca mais vou poder rebolar nas ervas daninhas, nem cheirar os malmequeres amarelos… nunca mais! É como se me estivessem a arrancar uma parte de mim, as minhas memórias, o meu orgulho, os meus sonhos de criança, a minha inocência…

Os ninhos vão cair, junto com as árvores dos meus frutos predilectos, as andorinhas vão esquecer que um dia era felizes aqui, vão voar para outros lados, as toupeiras, os ratos do campo, os grilos, as cigarras, os saltões, as cobras… vão todos embora, para não voltar jamais!

A velha mina que nos banhava com a água fresca, é dilacerada, rasgada em pedaços, para dar lugar a modernices, ao luxo, à falta de ar puro! É ao vê-la ser quebrada, que vejo as lágrimas que a minha terra chora! Ela chora como eu, em silêncio, contendo o grito de dor que não mudaria nada… Se as máquinas não continuassem, eu diria que por cada lágrima, nasceria mais uma flor campestre…mas em vez disso, vão nascer prédios, casas, alcatrão, vigas de aço…

Consegues ver que eles estão a fazer? Consegues sentir o que eu sinto? Sempre imaginei viver aqui, “feliz para sempre” como acabam todos os contos de fadas… via o meu rosto ganhar sulcos profundos… pequenas rugas, deixadas pelo meu tropeçar na vida ao longo dos tempos… via os meus rebentos, os meus netos, correrem por ai como eu, passarem as tardes escondidos na erva daninha a inventar formas nas nuvens do céu, via-os a brincar, a ousarem arriscar-se como eu… a aparecerem em casa com arranhões dos ramos da árvores e das silvas, ou das comichões das urtigas, picadas dos insectos… porque lhes roubaram tudo isso??? Porque me matam cada sonho???

É por isso que tu preferes não ser ninguém, preferes manter-te no limbo da minha imaginação… escondido, isolado destas coisas confusas que o mundo tem! Sabes o que lhe chamam aqui? Ganância, egoísmo… são coisas feias que este mundo tem! Coisas que sempre pensei que no sangue do meu sangue, fosse impossível de existir…mas a cada passo que os anos dão, vejo que o meu conto de fadas, não é tão lindo como eu pensava! Ele vendeu tudo, sem sequer pedir desculpa aos que saíram de dentro de sim…achas justo???

Madalena Rocha

Porque existe sempre uma outra face

O lugar onde todas as faces de mim vao estar onde nao estou!
Já nao sou uma...
Que os testos da Clara, da Madalena e da Rita, cheguem onde eu nao consigo chegar!!!