quinta-feira, julho 27, 2006

Uma nova visao do mundo


Já só queria sentir aquela sensação… Não ouvir nada! Só o som da água fria do chuveiro, a escorrer pelo meu corpo levando lentamente cada gotícula de sal que se impregnaram em mim enquanto caminhava na praia… Não sei quanto tempo andei…sei que foi tempo de mais! Procurei a exaustão dentro de mim e ao contrário dos outros dias, não havia maneira de ela chegar… As palavras do médico, ainda ressoavam cá dentro e não sei bem porquê, encheram-me de força, ao contrário do que seria de esperar! Por fim, cansei-me simplesmente psicologicamente de andar e deixei-me ficar estendida da areia! Primeiro de olhos fechados sentido a textura da areia nas minhas mãos, depois o som do mar… deixei entrar dentro de mim, ser eu! Por fim, de barriga para baixo e cabeça apoiada na palma das mãos, fiquei simplesmente a vê-lo…

Relembrei as brincadeiras ao lado de um amigo… As palavras tontas, os desabafos, as frases célebres enunciando o desejo de morrer! Brincamos até com a estúpida mancha, ele beijou-a… sempre a brincar!

Agora, passou tudo a uma realidade estranha! Não é triste, não me consome, não me leva a pensar nada… E por isso mesmo, nem sei porque me deixei chorar enquanto andei sozinha pela praia… Pensei em ti! No que dirás… de certa forma, não te quero contar! Quero que fiques com a minha imagem intacta, tal como no dia em que a viste pela primeira vez… Sinto demasiado desprezo pelos sentimentos de compaixão e pena neste momento! Se to disser, vais mudar… vais deixar de ser tu e eu vou acabar por passar pelo que não quero!

Sinto, embora sem saber porquê, um alívio enorme no peito… Quase um sentimento de cobardia… que ironicamente, me faz sentir bem! Sinto-me livre agora… livre para ser louca, ousada, rebelde… fazer tudo o que for e não for aceite, por quem quer que seja! Sinto-me livre para experimentar tudo o que sempre desejei e nunca te disse…

Não sei até quando… Só isso, não me souberam dizer!

Agora, enquanto passo a esponja meticulosamente por cada pedaço do meu corpo, sinto como se este banho fosse único, como se me lavasse de outra forma! Não me apetece acabar… Desde que as palavras derradeiras (ou não) foram ditas, tudo se tornou diferente… Em vez do autocarro habitual, apeteceu-me andar a pé… reparei num monte de coisas! Pequenos pormenores, que da janela de um autocarro apinhado, nunca seria capaz de me aperceber… Sorri a estranhos, troquei olhares furtivos, beijei faces de idosos, brinquei com as crianças da rua… até o inspirar do ar me pareceu diferente! Só uma coisa me pareceu exactamente igual… aquela praia!

Quero esquecer a frase do médico… Pela forma como ma disse e pelo seu olhar piedoso que me meteu nojo! Haveria mil e uma formas para mo dizer, não me importaria do mesmo modo, mas um simples: “Estás a morrer” é seco de mais!

Clara Rodrigues

27-7-2006

sexta-feira, julho 07, 2006

Amo-te, é o que fica



Desta vez

Houve algo que se perdeu

Não sei o que foi

Não consigo lembrar

Não sei o lugar

Não sei a hora

Não sei quem nos rodeava

Sei que estavas tu

E eu!

Desta vez

Eu fazia parte do sonho

Tal como tu

De novo um abraço

Dois pares de olhos tristes

Sussurros

Outro abraço

Um beijo na face

Um pouco mais apertado

Sim

Apertaste-me mais

Como se tentasses

Desesperadamente

Mas inevitavelmente

Que aquele momento não acontecesse

Que tudo não passasse de algo sonhado

Mas sonhado sem sentido!

Um abraço

Um afago no meu cabelo

Um segredo

“Perdoa-me por não evitar

Por não conseguir arrancar isto do meu peito

Perdoa-me por seres tão importante para mim

…”

A voz diminuiu de volume

Só um sussurro

Para nem o vento ouvir

Só o teu coração

“…amo-te!”

Virei as costas

Andei na direcção oposta a ti

A mim

Ao meu coração

Acordei triste

Sem rumo

Sem destino

Sem saber o k sentir

Sem saber

(só uma vez mais)

Como interpretar este sonho!

Mas amo-te

É a palavra que fica

E o que fazer com estas letras

Não sei!

Clara Rodrigues

7-7-2006