terça-feira, agosto 15, 2006

Lá vai a prostituta


Lá vai a prostituta

Com o seu maior decote

Lábios pintados de um brilho apenas

Para despertar o desejo

De qualquer um que passe!

Nos olhos um risco negro carregado

Realçando o verde água

Natural de si mesma

Cabelos molhados

E peito encharcado numa fragrância doce!

Lá vai ela!

A prostituta!

Lá vai para mais uma viagem

Ao mundo desconhecido do seu corpo

E ao de outrem…

Quem? Não sabe,

Mas também não importa!

Cada dia um diferente,

O seu trabalho,

Apenas dar-lhes prazer!

Caminha nervosa de um lado para o outro

Mais uma vez

Puxa os peitos para cima

O decote mais a baixo

Ignora quem passa

Numa atitude altiva

(mas demasiado frágil)

Mas vê-lhes bem o desejo no rosto

Num reflexo já completamente inato

Quando vê ao fundo o seu transporte

Troca a aliança de mão

O coração de ouro que carrega no peito

Entre os seios já suados

Do insuportável calor

Limpa o canto dos lábios carnudos

Borratados por um meio sorriso

Que lhe escapou há pouco

Porquê?

Nem ela sabe!

Põe os óculos de sol

Para que o ar de mistério

E sensualidade suba ao rubro!

Cada um que olha ao passar deseja

Cada um que olha ao passar ela despreza

É o seu oficio

Que ninguém sabe

Que ninguém pode saber

Só isso!

Ela entrou

Ele mirou

Ela tentou sorrir

(Um sorriso falso)

Ele não percebeu

Ela permaneceu na entrada

Como era costume

Ele veio de olhar sedento

Ela fingiu não perceber

Soltou o vestido num único gesto

Seco

Rápido

Mecânico

Mero hábito de trabalho

A lingerie berrava aos olhos dele

Ela fechou os olhos

Ele não conteve mais o seu desejo

Ela viu o seu príncipe

(não o marido,

Que esse não entra nos seus sonhos)

De olhos fechados ficou

Ele de olhos bem abertos a devorou

Olhos verdes ele não viu mais

O seu rosto de puro desejo carnal

Ela não pode perceber

No fim ele gritou

Dela,

Num um sussurro suou

Voltou a abrir os olhos

Verde mais vivo que nunca

De lágrimas a transbordar

Ele arfando ao seu lado

Nem reparou

Ela ainda nua e suada

Agarrou o maço de notas

Perdido na mesa-de-cabeceira

(sublinhe-se bem,

Que este era pequeno,

Ser prostituta não rende assim tanto,

Não quando se estava no inicio

Não quando a necessidade de dinheiro

Era maior)

Vestiu de novo o vestido berrante

Não disse nada

Ele já se abandonara à sua exaustão

Saiu

Voltou pelo mesmo caminho

Na sua memória

Fica o sonho com um príncipe

(que fez amor com ela amando-a)

E no seu bolso

Um maço magro

De notas sujas

Perto de casa

Volta a colocar a aliança na mão esquerda

Abriu a porta

Ninguém em casa

Soltou um suspiro

O alivio de não ter que encarar de novo a personagem

Era enorme

Sentiu-se suja

Esfregou-se até quase rasgar a pele

Num último momento de desespero

Imergiu na banheira de espuma a transbordar

Assim fica,

Até que algo mude de curso

E desta se foi a prostituta

Num outro dia banal

Só um

Só mais um dia de oficio ingrato

Para quem só pode amar com o corpo

Sempre só um

Só mais um

Contudo,

Não o derradeiro último!

Madalena Rocha

30-5-2006

1 Comments:

At 6:17 da manhã, Blogger João Guedes said...

WWooooooooooWW

 

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