Lá vai a prostituta

Lá vai a prostituta
Com o seu maior decote
Lábios pintados de um brilho apenas
Para despertar o desejo
De qualquer um que passe!
Nos olhos um risco negro carregado
Realçando o verde água
Natural de si mesma
Cabelos molhados
E peito encharcado numa fragrância doce!
Lá vai ela!
A prostituta!
Lá vai para mais uma viagem
Ao mundo desconhecido do seu corpo
E ao de outrem…
Quem? Não sabe,
Mas também não importa!
Cada dia um diferente,
O seu trabalho,
Apenas dar-lhes prazer!
Caminha nervosa de um lado para o outro
Mais uma vez
Puxa os peitos para cima
O decote mais a baixo
Ignora quem passa
Numa atitude altiva
(mas demasiado frágil)
Mas vê-lhes bem o desejo no rosto
Num reflexo já completamente inato
Quando vê ao fundo o seu transporte
Troca a aliança de mão
O coração de ouro que carrega no peito
Entre os seios já suados
Do insuportável calor
Limpa o canto dos lábios carnudos
Borratados por um meio sorriso
Que lhe escapou há pouco
Porquê?
Nem ela sabe!
Põe os óculos de sol
Para que o ar de mistério
E sensualidade suba ao rubro!
Cada um que olha ao passar deseja
Cada um que olha ao passar ela despreza
É o seu oficio
Que ninguém sabe
Que ninguém pode saber
Só isso!
Ela entrou
Ele mirou
Ela tentou sorrir
(Um sorriso falso)
Ele não percebeu
Ela permaneceu na entrada
Como era costume
Ele veio de olhar sedento
Ela fingiu não perceber
Soltou o vestido num único gesto
Seco
Rápido
Mecânico
Mero hábito de trabalho
A lingerie berrava aos olhos dele
Ela fechou os olhos
Ele não conteve mais o seu desejo
Ela viu o seu príncipe
(não o marido,
Que esse não entra nos seus sonhos)
De olhos fechados ficou
Ele de olhos bem abertos a devorou
Olhos verdes ele não viu mais
O seu rosto de puro desejo carnal
Ela não pode perceber
No fim ele gritou
Dela,
Num um sussurro suou
Voltou a abrir os olhos
Verde mais vivo que nunca
De lágrimas a transbordar
Ele arfando ao seu lado
Nem reparou
Ela ainda nua e suada
Agarrou o maço de notas
Perdido na mesa-de-cabeceira
(sublinhe-se bem,
Que este era pequeno,
Ser prostituta não rende assim tanto,
Não quando se estava no inicio
Não quando a necessidade de dinheiro
Era maior)
Vestiu de novo o vestido berrante
Não disse nada
Ele já se abandonara à sua exaustão
Saiu
Voltou pelo mesmo caminho
Na sua memória
Fica o sonho com um príncipe
(que fez amor com ela amando-a)
E no seu bolso
Um maço magro
De notas sujas
Perto de casa
Volta a colocar a aliança na mão esquerda
Abriu a porta
Ninguém em casa
Soltou um suspiro
O alivio de não ter que encarar de novo a personagem
Era enorme
Sentiu-se suja
Esfregou-se até quase rasgar a pele
Num último momento de desespero
Imergiu na banheira de espuma a transbordar
Assim fica,
Até que algo mude de curso
E desta se foi a prostituta
Num outro dia banal
Só um
Só mais um dia de oficio ingrato
Para quem só pode amar com o corpo
Sempre só um
Só mais um
Contudo,
Não o derradeiro último!
Madalena Rocha
30-5-2006
1 Comments:
WWooooooooooWW
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