Ser criança contigo

Uma folha caiu… Aqui, bem perto de mim!
Estava castanha, cansada do tempo que a fez passar tanto tempo dependurada nos ramos a oscilar ao sabor de si mesmo!
Eu estou sentada no muro, como desde que chegamos… Também eu oscilo… As minhas pernas dependuradas, balançam ao ritmo do vento e confesso, da minha criancice! Mas que importa ser criança? Sabe tão bem… Foi neste ritmo de criança despreocupada que te conheci, que te cativei e me cativaste, não foi?
Contudo hoje, uma parte racional de nós mesmos, proíbe-nos de sermos as crianças que já fomos! Alegres, incautas, irresponsáveis… Por isso, ficamos apenas sentados neste muro a olhar o rio! Ironicamente, assim como antes, estamos num lugar bem isolado do mundo, onde parece que ninguém nos pode tocar, salvo nós mesmos, mas estupidamente, nem isso fazemos! Ficamos sentados lado a lado, numa distancia estupidamente razoável… Sinto-te respirar, sinto-te a olhar a medo para a minha mão… É como se os teus olhos ma beijassem e eu mesma me arrepio! É estranho estar assim…
O dia está a chegar ao fim… em poucos segundos o sol que como crianças dissemos, fora aceso por um fósforo gigante, apaga-se! É o fim de tarde mais lindo que alguma vez vi… Talvez porque estás a meu lado, ou simplesmente, porque o céu está lindo… Sei que estou feliz, e isso basta-me!
Num torbilhão indistinguível de cores, a bola gigante apaga-se, mas o azul ameno ainda permanece na claridade que ainda resta!
Como se todo o tempo que ali estivemos a conter o desejo de nos tocarmos desaparecesse, tu agarras-me pela mão… Abres um sorriso rasgado, um sorriso de já tinha imensas saudades! Levas-me contigo… vamos subindo, subindo, subindo… e quando dou por mim… tenho o teu braço nos meus ombros e ao ouvido, um sussurro teu soa: “Aqui o dia ainda não acabou!” Sigo-te o olhar… O sol ali, ainda se via, fugidio, quase enixistente, quase a apagar, mas vivo ainda!
Continuamos a subir voltando a ser por pequenos momentos as crianças alegres que um dia fomos! Sempre que o sol se apagava, havia um ponto mais alto onde ele ainda vivia! Sorri ao perceber que estavas a metaforizar-nos, quis perguntar porquê, quis ouvir-te falar sobre isso… mas o teu sorriso não me deixava!
Tinha medo de estragar toda a felicidade que há já tanto tempo não via no teu rosto!!!
Quando não existia mais pontos altos para subir, voltaste a largar-me a mão e voltamos à nossa estúpida distância “aceitável”! Nesse momento odiei o sol, mas logo me passou essa raiva! Tu permanecias ali, nada estragaria a beleza intocável daquele dia!
Gostava de manter esta sensação minha, verdadeira, eterna… mas a consciência não me deixa! Que raiva de ser crescida! Porquê não ficar para sempre pequenina? Tenho saudades de ser criança, criança sempre, não só nestes momentos toscos e fugidios… tenho saudades, saudades de ser criança, contigo!
Clara Rodrigues
1 Comments:
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um por-do-sol lá de cima seria bem mais fixe, nao?! :p
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